Lagoaça

Essa bela localidade!

30/03/2005

Corro ao longo do rio. Olho para o negro reflectido no rio. E nele me sinto vazio, só, abandonado. Tudo de bom se desvaneceu, tudo o que de mau existe me vem atormentar. Vou correndo em jeito de voo para que ela não me veja.Vão passando reflexos de povoações no negro do rio iluminando a minha triste existência. Mas o não me ilumina para que tudo fique claro, iluminam-me num modo zombeteiro por saberem que não as posso olhar. Gozam com a minha condição fazendo-me sentir ainda pior. Não as posso olhar porque me fazem lembrar dela e isso far-me-á deitar tudo a perder. A minha fuga tarda em acabar e o medo que ela me encontre cai sobre mim e corro com mais intensidade. Saí pela calada da noite para que ela n me sentisse sair. Só dará pela minha falta de manhã e já não pode fazer nada senão chorar a perda de um amante. Mas não é de um só.No espaço de poucos dias ela perdeu os seus amantes, filhos do seu própro ventre que se lhe haviam unido num incesto desenfreado.Todos os amantes foragidos correm em direções diferentes para que não se encontrem traindo a sua lembrança, tornando supérflua a sua existência.Agora alheada de todo amor, o negrume cai sobre toda ela. A alegria de gargalhadas que rebentavam a cada esquina não mais se ouvem. Os sorrisos de uma felicidade inflamada não mais são vistos. Tudo de bom se desvanece até que algum amante regresse. Então tudo regressa.E Lagoaça vive de novo.